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Catedral
1984
**Relato do Céu Aberto sobre Maringá – 1984**
Na noite de oito d'abril do anno de mil novecentos e oitenta e quatro, sendo já por volta de sete horas e meia da noite, firmamento claro e o ar parado como se o tempo houvesse esquecido de seguir, eu, Joaquim de Almeida, morador deste bairro velho próximo à catedral, estava a varrer a varanda de minha casa quando notei uma sombra que não era de nuvem nem de ave.
Ergui os olhos e vi no céu um disco de metal, liso como prata polida, parado sobre a cidade, sem emitir fumaça ou barulho algum. Pairava como coisa viva, sem bater asas, sem tremor, tão silencioso que até os cães calaram-se.
As luzes do objeto mudavam de cor — primeiro brancas, depois um âmbar fraco, por fim um tom de verde que doía na vista. O gado na pastagem próxima se agitou, e as galinhas no quintal bateram asas sem rumo. Minha esposa, Maria das Dores, saiu à porta chamando meu nome, pois a luz estranha entrava por entre as frestas.
Durou pouco, talvez um minuto inteiro, mas pareceu mais, como se o tempo houvesse sido suspenso. O objeto então se ergueu sem esforço, numa reta pura, e sumiu como estrela fugidia. Ficamos ali parados, sem fala, só com o som do nosso próprio peito a bater.
No dia seguinte, ninguém quis falar. Uns riam, outros calavam. Um vizinho disse que ouvira vozes dentro da cabeça, mas depois negou. A rádio não deu notícia, e até hoje dizem que foi coisa de visão fraca ou espírito do mato.
Mas eu sei o que vi. E quem olhou pro céu naquela noite, com coração limpo e olhos firmes, sabe também.
— J. de Almeida, Maringá, no anno do Senhor de 1984.
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