A igreja

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Araruna
Primeiro de Abril de 2024

“O lado bom de se morar em uma cidade pequena é que é fácil descobrir onde alguém mora. É só ter a expertise e o tempo de olhar carro por carro e comparar placa por placa” Era o mesmo dia primeiro de abril desse ano. Procurei durante horas a tal caminhonete que tirou “a seita do criador” da floresta e os levou para sabe lá onde. Tive que ser cuidadoso com meus passos, me disfarçando aqui e ali, fingindo aqui a li, e me escondendo em lugares ali e acolá. Foi no centro da cidade que vi, por baixo de um pano cinza esfarrapado, o tal carro. Rodas sujas de lama, galhos e folhas. Estava estacionado fora dos portões da igreja, no centro. Tive que esperar o anoitecer e torcer para que acontecesse alguma coisa. Foi de noite que um homem parrudo, pele clara, com poucos cabelos, apareceu. Ele colocou a caminhonete para dentro e eu o segui. A perseguição me levou até uma pequena salinha. Em um lugar longe o bastante dos fiéis, mais ainda dentro dos muros da igreja. Não pude entrar obviamente, mas fiquei fora olhando e ouvindo atentamente por uma pequena janela no topo de uma parede, em cima de umas caixas. Eles praticavam alguma coisa, um tipo de reza, ou ritual. Era parecido com o que vi anteriormente, na floresta. Dessa vez soava mais macabro. O interior da salinha estava iluminado por velas dispostas em círculo, criando sombras dançantes nas paredes. No centro, sobre uma mesa simples de madeira, estava um grande livro aberto, com páginas amareladas e escritas em uma língua desconhecida. Ao redor da mesa, sete pessoas estavam ajoelhadas, vestindo túnicas vermelhas e capuzes que ocultavam seus rostos. Suas vozes ecoavam baixinho, recitando passagens do livro em um tom ritualístico e sombrio. Elas colavam cartas e recortes de papel nas páginas do livro, enquanto cantavam. As palavras eram ainda mais estranhas, mas de todas elas, uma palavra eu entendi. Uma palavra estranha que para mim, tinha um significado, era algo como “agradecimento”. Tive medo que me descobrissem, por isso fugi rapidamente, sem ver muita coisa naquele dia. Voltei várias e várias vezes para lá depois, desde que descobri as várias cartas coladas no grande livro. “eram cartas-relatos, e ao lado das cartas tinham nome e rosto de quem as havia escrito” “O restante do livro tinha mais relatos, escritos em língua estranha”

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